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LUNES, NOVIEMBRE, 03, 2014 | 17:12
 
Analistas veem novas altas de juros adiante
 
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 11,25% ao ano, sinaliza que o Banco Central (BC) não deve parar por aí. Indica também que o governo quer passar a mensagem de maior austeridade para o mercado, segundo analistas.

O movimento reforça a ideia de que possa vir alguma coisa nesse sentido em relação à política fiscal, afirma Maurício Molan, economista-chefe do Banco Santander. "Os mercados devem reagir positivamente à decisão. A alta da Selic faz sentido, uma vez que pioraram as perspectivas para a inflação em função da depreciação da taxa de câmbio", destaca Molan.

O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, considera que a decisão foi acertada, na tentativa de reancorar as expectativas de inflação que estão muito elevadas. "A ação do BC é bem-vinda, dada a incerteza em relação à política fiscal, câmbio mais depreciado e expectativa de alta dos preços administrados."

Para Padovani, o BC iniciou ontem uma nova rodada de alta de juros e mostra a preocupação em controlar a inflação. "O BC deve conduzir a taxa Selic para um patamar que achamos adequado para trazer a inflação para o centro da meta e encerrar o novo ciclo de aperto com a taxa de juros em 12% ao ano, ao ritmo de alta de 0,25 ponto", afirma.

O economista-chefe do BES Investiment, Jankiel Santos, diz que o BC surpreendeu positivamente ao retomar o aperto monetário. "Aparentemente, o membros do Copom finalmente reconheceram que a dinâmica inflacionária é muito pior do que a delineada no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado em setembro."

Para Santos, é difícil acreditar que o BC tenha realizado um único movimento de alta da Selic e que o ciclo monetário iniciado agora seja inferior a um ponto percentual. "Acreditamos que o BC tem conhecimento de que será necessário promover novas altas da Selic para melhorar a dinâmica da inflação corrente e das expectativas."

A decisão abre espaço para o reajuste dos preços administrados, como gasolina e energia, lembra Padovani. Ele acredita que a alta da Selic deve ser bem recebida pelos mercados e levar a uma queda da curva de juros (a variação dos contratos de DIs nos diversos vencimentos), com a alta das taxas de curto prazo e redução das taxas de prazos mais longos. "As taxas de juros de prazos mais longos devem cair com a maior confiança nos mercados de que o governo pode controlar a inflação."

Já o câmbio pode até se fortalecer no curto prazo com a alta de juros. Mas essa reação seria temporária e a tendência é de depreciação dado os fundamentos fracos do Brasil e a valorização global do dólar diante da normalização da política monetária americana.

"O crescimento mais baixo do Brasil em relação à economia global e o alto déficit em conta corrente [de 3,7% do PIB em 12 meses até setembro] devem levar a uma trajetória de depreciação do real. A grande questão é em que ritmo isso vai acontecer", afirma Padovani.

Contudo, alguns analistas avaliam que o momento escolhido pelo Copom para elevar os juros, logo após as eleições, foi infeliz.

A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, diz que o BC tomou a medida certa, mas arranhou ainda mais a sua já "abalada" credibilidade.

"Faz todo sentido aumentar a Selic com a inflação corrente acima do teto da meta (6,5%) e as expectativas desancoradas. Mas do ponto de vista da comunicação, é um erro gravíssimo, porque o Copom deu sinais fortes em suas atas e no relatório de inflação de que pretendia manter a Selic estável", afirma. "E subir os juros logos depois das eleições vai provocar um rumor desnecessário e jogar mais lenha na fogueira na percepção de que há interferência política".

O economista-chefe da Quantitas, Gustav Gorski, ressalta que a decisão chega a ser "chocante" quando se recorda o conteúdo dos programas de propaganda eleitoral da presidente Dilma Rousseff, com críticas pesadas à independência do BC que, ao subir os juros "tiraria comida dos pobres para dar aos ricos". "Do ponto de vista econômico, com a dinâmica inflacionária em que estamos vivendo, já fazia tempo que havia motivos para a alta dos juros. Mas foi uma grande surpresa."

O professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Fabio Kanczuk, classificou a decisão como correta e corajosa. "É uma reação à depreciação do real nas últimas semanas. O que surpreende é ter acontecido tão próximo do processo eleitoral."

Fonte: Valor Econômico
 
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